Trauma: A Ferida Invisível que Reconfigura a Existência
- Francisco Masan
- 22 de out.
- 2 min de leitura
Atualizado: 22 de out.
O trauma é uma ferida invisível que penetra profundamente na psique humana, deixando marcas que transcendem o momento do evento adverso. Não se trata simplesmente de uma experiência difícil, mas de uma ruptura na forma como percebemos o mundo, a nós mesmos e aos outros. É uma reorganização neurobiológica que altera a maneira como processamos segurança, confiança e significado existencial.
Conceito e TEPT segundo o DSM-5-TR
O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é definido pelo DSM-5-TR como uma condição que emerge após exposição a evento(s) traumático(s) envolvendo morte real ou ameaça, lesão grave ou violência sexual. Caracteriza-se por quatro grupos de sintomas: revivência intrusiva (flashbacks, pesadelos), evitação (de estímulos associados ao trauma), alterações negativas em cognição e humor, e alterações em reatividade e excitabilidade. A persistência desses sintomas por mais de um mês, com sofrimento clinicamente significativo, confirma o diagnóstico.
Sintomatologia do Trauma
Os sintomas manifestam-se em múltiplos níveis: cognitivo (crenças negativas sobre si mesmo e o mundo), emocional (medo, raiva, culpa, vergonha), comportamental (evitação, hipervigilância) e somático (tensão muscular crônica, insônia, reatividade exagerada). O corpo "memoriza" o trauma, mantendo-o vivo através de sensações físicas que podem ser acionadas por gatilhos aparentemente insignificantes.
Psicologia Analítica Junguiana e Experiência Somática
A psicologia analítica de Jung oferece uma perspectiva profunda: o trauma fragmenta a psique, dissociando aspectos do self. A integração desses fragmentos através do trabalho com o inconsciente, símbolos e imaginação ativa permite a reconfiguração psíquica. Peter Levine, através da Experiência Somática, propõe que o trauma fica "congelado" no sistema nervoso. Sua abordagem enfatiza a liberação dessa energia imobilizada através da consciência corporal, permitindo que o organismo complete as respostas interrompidas durante o evento traumático. Ambas as abordagens reconhecem que a cura transcende a cognição, envolvendo integração profunda.
Tratamento Farmacológico
Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs), como sertralina e paroxetina, são primeira linha no tratamento farmacológico do TEPT, reduzindo sintomas de revivência e evitação. Medicações adjuvantes podem ser utilizadas para insônia, ansiedade e hipervigilância, sempre em abordagem integrada com psicoterapia.
Mensagem de Esperança
O trauma não é uma sentença perpétua. Embora profundo, é transformável. A neuroplasticidade cerebral permite que novas conexões neurais se formem, ressignificando experiências. Quando combinamos compreensão psicológica profunda, integração somática e suporte farmacológico adequado, criamos condições para que a ferida invisível se cicatrize. Muitos sobreviventes não apenas recuperam-se, mas emergem com maior resiliência, compaixão e sabedoria. A cura do trauma é possível—é uma jornada de retorno a si mesmo, de reconfiguração existencial que, paradoxalmente, pode levar a uma vida mais autêntica e plena.









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